sexta-feira, 2 de setembro de 2016

SÉTIMO DIA - PEDRINHAS A APARECIDA - 41,33 KM - 04/09/2016

Hoje, quando acordei, ouvi um som de chuva. Desanimada, olhei para a janela, com a veneziana ainda fechada, e levantei para conferir. Já ouvi dizer que a preocupação é o ato de se pré-ocupar com pensamentos que, muitas vezes, sequer tornam-se reais. Conforme fui abrindo, um feixe de luz foi crescendo de forma radiante, até que preencheu todo o quarto. O 'barulho de chuva' era a fonte de sapinho, do meio da lagoa. Ri de mim mesma, e na hora pensei: A primeira lição de hoje é: Não suponha... confirme! 


Descemos para o café da manhã e fizemos nosso desjejum, apreciando nossa última refeição matutina do Caminho da Fé. O bolinho de chuva estava uma delícia!


As 08h00, como de costume, estávamos prontos para partir.


Fomos alertados por todos a tomar muito cuidado na descida. Realmente, o caminho simplesmente despenca por aproximadamente 11 km. Os quilômetros iniciais são os mais perigosos, devido ao intenso declive com pedras grandes e soltas. Fomos bem devagar e, conforme as mãos cansavam dos freios, parávamos para descansar. Conforme fomos descendo, a estrada foi ficando mais ampla, com menos pedras, e o declive não era tão acentuado. Além disso, foi abrindo uma clareira, formando um grande mirante a nossa frente. Sinceramente, senti uma emoção como essa, apenas quando desci a Serra do Rio do Rastro! O que vimos era de uma beleza tão radiante, que é quase impossível descrever em palavras... pensava apenas em uma coisa, todo o tempo: Preciso trazer meus pais para verem isso aqui! Preciso mostrar que é real... começamos a fotografar, na tentativa de registrar tudo o que estávamos vendo e sentindo.



 

Já nos primeiros 6 km, podíamos avistar a cidade de Aparecida e a grande basílica, há quase 30 quilômetros a frente... isso é simplesmente fantástico!


Assim que terminamos a sessão de fotos no primeiro 'mirante', observamos uma tropa subindo com seus magníficos cavalos, cavaleiros e amazonas, voltando do Caminho de Aparecida. Foi novamente emocionante, passar entre eles!




O difícil era apenas contemplar! Enquanto olhava, não conseguia parar de pensar que gostaria de ter o poder de engarrafar momentos como esses, para poder usar naqueles dias que tudo fica tão complexo e deprimente. Seria o lugar para onde eu simplesmente fugiria, para meditar nas coisas que fazem a vida valer a pena! Queria poder pausar a vida aqui, para viver tudo isso em câmera lenta... Mas nada disso é possível. Extremamente tocada, tudo o que podia fazer envolvia olhar, apreciar, sentir, memorizar e sorrir para a vida, em agradecimento, por mais esta experiência!




Neste trecho passamos por alguns pesqueiro de trutas (que meu pai iria amar), vários restaurantes que servem trutas, é claro, e várias pousadas. Paramos neste restaurante, quando uma linda labradora saiu para brincar comigo na rua. Quase que imediatamente o proprietário, um senhor super educado, saiu e nos convidou a entrar para conhecer seu pedaço de paraíso. 



No fundo do restaurante, há uma pequena corredeira e a maravilhosa mata nativa da Serra da Mantiqueira. 



Gaia ganhou toda a minha atenção! Uma menina dócil e brincalhona. Assim que descemos, imediatamente foi procurar um graveto para me trazer, a fim de que eu jogasse infinitamente para ela ir buscar. 



Carimbamos novamente nossas credenciais aqui, com o mesmo carimbo usado no Caminho de Aparecida. Filipe comentou estar receoso de não recebermos nossos certificados no final, visto estarmos registrando carimbos de outro caminho. Perguntei a Maria se ela ficaria muito chateada, caso isso desse errado... mas, ao que parece, o maior registro de tudo estava dentro de nós mesmos, algo que ninguém poderia impedir de sentir ou lembrar. 

Continuamos pelo bairro Gomeral e logo adentramos uma longa e deliciosa descida de asfalto. Os únicos por ali, eramos nós três... que paz! Alguns quilômetros a frente, encontramos um grande grupo de ciclistas da região, que nos recepcionaram de uma forma muito gentil! Conversamos um pouco e depois seguimos em frente. 



Os quilômetros seguiam retrocedendo de forma rápida, agora, faltavam apenas 18 km para o final do caminho. 


Seguimos por uma estrada de asfalto até uma bifurcação. Ali, se fossemos reto, entraríamos em Guaratinguetá, se virássemos a direita, seguiríamos por uma ciclovia que, de acordo com as placas, chegaria a Potim. Paramos por alguns segundos e, antes que tomássemos uma atitude, um rapaz, simplesmente para o carro do nosso lado e nos diz: 'Sigam a direita, a Potim. É só seguir sempre em frente que chegarão a Aparecida!' Agradecemos e seguimos pela ciclovia. 

Após uns quilômetros pedalados, começamos avistar, a nossa esquerda, a Basílica de Aparecida. 




Há poucos quilômetros do fim, o pneu de Filipe fura. Isso foi um balde de água quente (porque, com este calor, se fosse água fria seria uma delícia!). Tira a roda, tira a câmara, abre alforge, pega a câmara nova, Filipe briga comigo por não estar murchando a câmara furada exatamente como ele havia pedido, procura o espinho, tira do pneu, coloca câmara nova, começa a bombar enfim... uns 20 minutos de trabalho forçado. Logo que saímos do campo de concentração, voltamos ao Caminho. 

Chegamos a Potim, próximo ao meio dia. 


Após alguns quilômetros, passamos por mais uma plaquinha nos avisando que faltavam apenas 2 km para nosso destino final. 



A chegada na cidade foi diferente do que eu imaginava... um tanto assustadora. Muda-se radicalmente os lugares, as pessoas, os hábitos. Vínhamos de dias tão tranquilos e entramos no verdadeiro caos. Passamos sob um viaduto, ao lado de pessoas tão mal encaradas que sinceramente temi por nossos pertences e até mesmo por nossa integridade física. Fiquei triste com a realidade dos fatos. Continuamos seguindo as setas, que nos levaram até a frente da basílica. Fizemos nosso registro e seguimos para a retirada de nossos certificados. 



Na hora de receber o certificado, em momento algum fomos questionados se chegamos aqui via Pindamonhangaba ou Pedrinhas. Em nenhum momento nos foi dito que nosso caminho não valera de nada, por não termos concluído o último trecho via 'rota oficial'... Recebemos nossos certificados, tanto quantos milhares de outras pessoas que, assim como nós, souberam administrar suas emoções, limitações físicas e acreditaram que o desejo de vencer as 'montanhas' da vida é maior que qualquer coisa. Sim, tivemos fé que conseguiríamos chegar até aqui e conseguimos! 



Seguimos para a rodoviária e não tivemos coragem de sair dali... Eram 13h00. Compramos as 3 últimas passagens para Campinas, do ônibus que sairia as 15h30. Almoçamos na própria rodoviária e seguimos para a sala de espera. Como estávamos sujos, fui até uma pousada que fica do outro lado da rua, chamada Pousada dos Anjos, e contratamos um banho por apenas R$ 7,00. 


Pontualmente às 15h30, organizamos as bike's no porta-malas do ônibus e seguimos viagem até Campinas. Chegamos em nosso primeiro destino a apenas 20 minutos de nosso próximo ônibus partir. Foi mesmo o tempo de tirar de um bagageiro e colocar no outro. 


Chegamos em Sorocaba às 21h00, com muitas lembranças na 'bagagem' e sonhos realizados. 

Segue o caminho percorrido hoje



Gastos

R$ 64,47 Passagem Aparecida a Campinas
R$ 30,20 Passagem Campinas a Sorocaba
R$ 15,00 Almoço
R$ 7,00 Banho
Total R$ 116,67


Agradecimentos

Gostaria de agradecer infinitamente a meus queridos companheiros de viagem, que ajudaram a fazer dessa expedição um sucesso. Certamente, sem vocês, os momentos vividos não teriam sido tão fáceis e divertidos. Sempre que ouvir falar em Caminho da Fé, lembrarei das pessoas com quem eu pude compartilhar deste, que é um dos mais belos caminhos cicloturísticos que fiz em minha vida. 

Obrigada vida...


24 comentários:

  1. Parabéns!!! Vocês fizeram, além do caminho, o mais belo e didático registro que vi até hoje. Top!!

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    1. Poxa Rigiel, não tenho palavras para agradecer seu elogio. Saiba apenas que fez uma pessoa muito feliz, no dia de hoje! Obrigada, de coração!

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    2. Giancarlo desejo o melhor caminho para vocês. Desejo muitas histórias, muitas experiências e que possa compartilhar isso de alguma forma! Bom caminho

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  2. Que registro lindo! Estou me preparando pra fazer esse caminho a pé em outurbro e estou ansiosa, fiquei realmente emocionada com seu realto! LIndo! Parabéns!

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    1. Obrigada Marluce! O caminho nos tocou de forma muito especial. Desejo uma ótima jornada para você!

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  3. Parabéns pelo relato, ficou excelente, muito bem feito, já fiz o caminho apé e me vi em muitos desses trechos.

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    1. Obrigada Celio. Ficamos muito tocados por tudo o que vimos e sentimos ali. Não podíamos guardar pra nós! Grata por compartilhar deste sonho com agente!

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  4. Mais uma vez parabéns, Claudia, pelo belo registro do Caminho. Será, certamente, uma excelente fonte de informações para quem desejar saber sobre o percurso e todos os detalhes que você tão competentemente anotou. E que maravilha a parte final! Beijo grande para todos vocês!

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    1. Não sabe o quanto, vindo de você, isso é um elogio! Obrigada Elim... Saudades!

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  5. Parabéns ao trio, Blog perfeito, viagem perfeita, fotos perfeitas, historias e experiências de vida espetaculares... Já percorri o Caminho da Fé por seis vezes de bike mas nunca realizei o meu caminho da fé, todas as vezes foram acompanhando amigos e clientes dando suporte durante o percurso... Lendo este blog, me deu uma maior vontade de sair de casa para realizar o meu caminho da fé... Bike abraços a todos. Paulo Bernardo

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    1. Que emoção ler isso! Obrigada... espero mesmo que vá e divirta-se muito com tudo o que viver por lá! Monte um blog e mande para eu ler!!

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  6. Parabéns ao trio, ficou muito show o blog, estamos levantando informações ( eu e meu esposo), para fazer no próximo ano e suas informações e dicas foram perfeitas. Obrigada de coração. Abraços. Dariane da Rosa

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  7. Vocês não tem ideia da inveja que me causaram. Buááááááá´!!!!rsrsrsr. Já pensaram em visitar a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém? Aqui reunimos cerca de 2 milhões de pessoas no segundo domingo de outubro. Ofereço casa, comida e roupa lavada e secada.......venham!!!

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    1. Seria um grande privilegio conhecer voces e poder pedalar em suas terras. Tenho certeza que um dia faremos isspo e com certeza vou aceitar sua oferta! Valeu Francisco

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  8. Parabéns pelo excelente relato. Já fiz o caminho da fé 4x de bike saindo de sertaozinho, descalvado, Mococa e um menor saindo de ouro Ouro fino e nunca tinha lido um relato tão perfeito e que me fizesse lembrar das inúmeras experiências únicas que só quem faz sabe dar valor.

    Não conheço o trecho por pedrinhas e certamente irei fazer no meu próximo CdF.

    Abraços e parabéns!

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    1. Poxa Rogério, muito obrigada! Amo tudo o que faço... planejar viagens, executá-las e falar sobre elas, então, mais ainda! Acho que o segredo da vida é colocar o coração, naquilo que se faz... não tem como dar errado. E sobre Pedrinhas, sim, vá! Vale muito a pena... Bom caminho!

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  9. Olá, fantástico o registro da viagem as histórias e estórias, em meados de julho próximo (2018) eu e um grupo aqui da cidade de Sete Lagoas-MG estaremos fazendo o caminho da fé e as suas experiências nos foram muito úteis, obrigado fiquem com Deus.

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    1. Obrigada Giancarlo! Desejo que seu caminho seja tão especial quanto foi o nosso! Bom caminho

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  10. Olá Claudia, ainda em tempo, no próximo dia 19 de janeiro, vou completar o Caminho dos Diamantes, na Estrada Real, Diamantina à Ouro Preto, muito bacana, tendo oportunidade, eu indico, muito legal mesmo. abs

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    1. O caminho dos Diamantes foi um dos mais lindos e difíceis que já fiz! Mas vale a pena cada subida. Muito bom caminho pra vcs

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  11. Parabéns..que viagem deslumbrante..com Deus e N.S. de Aparecida..ancioso para que este ano possa eu comemorar meus 65 anos levando meu agradecimento por este ano de glorias que tenho recebido junto a minha familia..Que Deus e a Mãe do Manto Azul possa abençoar as Familias de vcs...e cada palavra de vosso relato seja um elo da corrente que vai me puxar naquelas montanhas..kkkkk

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  12. muito bom o relato, o mais completo que já li, me ajudou muito, estou programando essa viajem para o meio do ano ou quando a pandemia deixar rsrs

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