terça-feira, 6 de setembro de 2016

TERCEIRO DIA - INCONFIDENTES A TOCOS DO MOJI - 37,81 KM - 31/08/2016

A semana foi chuvosa em todo o estado de São Paulo. Vi a previsão do tempo para hoje e fiquei um pouco assustada... parece que pegaremos chuva até o final da viagem. Abro a porta do quarto e confirmo que o tempo está bem nublado. Procuro não ficar muito triste e, para isso, tiro o foco da previsão do tempo.

Na pousada, fazemos nosso básico café da manhã com pão, queijo, café e ajeitamos um pequeno lanche para fazermos durante o caminho. Carimbamos a credencial e colocamos a capa de chuva para partir, visto que começara uma garoa fina. A pousada fica quase em frente ao letreiro com o nome da cidade. Tiramos a foto abaixo e seguimos pelo asfalto. 


Poucos quilômetros a frente entramos a direita, novamente em uma estradinha de terra, e seguimos por lugares lindíssimos!





Avistamos a pousada Morada do Sol, com uma placa de apoio ao peregrino. Não me lembro de ter lido nada sobre ela, no PDF das pousadas. Entramos para tentar carimbar mas tudo estava muito quietinho e, com este clima, concluímos que estivessem dormindo. 


No entanto, depois de algum tempo, apareceu a proprietária Eliana, uma senhora simpaticíssima! Ela nos contou que passou a fazer parte do caminho após a peregrinação que fez neste anoacompanhada do marido. Ficou encantada com os hospitaleiros, que recebem os peregrinos, e desejou fazer parte disso. Ela nos disse que gosta muito de fazer artesanatos, por isso, comentamos com ela a dificuldade para encontrar souvenir relacionados ao caminho. Sugerimos que, quem sabe no futuro, ela possa colocar algo a disposição, neste sentido. Ela gostou muito da ideia!


Essas são Lucy e Sofia, as guardiãs da casa. 



Após um tempo conversando com Eliana, seguimos viagem. Para nossa alegria a garoa cessou e, apesar do tempo permanecer nublado, manteve-se agradável. 





Neste trecho passamos por muitas 'gentilezas'... provando que gentileza gera gentileza, por aqui, muitos criaram locais para os peregrinos como bancos, banheiro ou deixam a disposição água potável, etc. 


Como tem sido dia após dia, o caminho abre-se para nós com visões espetaculares! 



Passamos pela divisa entre Inconfidentes e Borda da Mata. 



Pouco depois, em meio a uma descida, passamos por uma lombadinha feita na terra e conhecemos o Sr. Anardino, uma figura em pessoa! Cumprimento ele e paro para fazer fotos das suas orquídeas, que são maravilhosas. 


Rapidamente ele puxa assunto e passamos pelo menos 30 minutos aqui, proseando com ele. 



Uma pessoa muito querida, divertida e alto astral! Imediatamente começa a fazer piadinhas, nos surpreendendo muito. Nos conta causos como um dia, que fingiu ser surdo / mudo, quando umas peregrinas passaram por ali, surpreendendo elas no final se despedindo audivelmente. Sua casa é um capricho! 



Fomos até convidados para ficar e almoçar com ele... com muita dor no coração, não pudemos aceitar, visto ainda termos um longo caminho pela frente. Certamente é uma das pessoas lindas que trouxemos no coração, deste lugar pacato e feliz. 

Seguimos viagem ainda mais tranquilos, após este maravilhoso encontro.


 Logo adentramos o município de Borda da Mata.



Aqui tem início um outro caminho de pretendemos fazer em breve, Caminho da Prece. (Segue o relato www.kaujakcaminhodaprece.blogspot.com.br)


Pegamos nosso carimbo e seguimos a Tocos do Moji. O caminho é novamente magnífico. 


De repente, após uma curva, somos surpreendidos com um grande touro no meio da rua. É comum passarmos no meio de pastos ou cruzar com animais soltos... nunca tivemos problemas com isso. Mas este nos chamou a atenção, visto nos encarar de forma assustadora. Até tentamos ir em sua direção, mas depois de soltar vento pelas narinas e esfregar a patinha no chão, concluímos que não era uma boa ideia.


Voltamos um pouco, para falar com um senhor que estava vindo em nossa direção. Ele logo soltou: 'Vishh! O bixo é brabô! Fiquem aqui, que tentarei espantá-lo.' Na mesma hora abaixou-se, pegou pedras, pau e foi seguindo em direção do animal. Quase na mesma hora, surgiu um carro, provavelmente proprietário do touro. Ele começou a jogar o carro sobre o animal que, após sentir-se acuado, pulou cerca a dentro. Após o incidente, seguimos em frente, passando o mais rápido que podíamos, para que isso virasse passado. Abaixo a foto do senhor que quase enfrentou o touro. 


Seguimos tranquilamente, apreciando as paisagem e avistando algumas plantações de morangos. 



Agora era hora de enfrentar a primeira serra do dia. 


São uns 5 quilômetros de subidas que alternam entre íngremes e super íngremes, rs. Subimos lentamente, conversando e fotografando. 



Olha o boi fazendo pose pra selfie
Mais ou menos na metade da subida, passamo por mais uma 'gentileza', desta vez do Sr. Xavier, ou Zé, como se apresentou a nós. Em frente a sua casa, há uma plaquinha indicando que há água... mas não é apenas isso! Ele nos conta onde estão as chaves e nos diz que, caso quisermos, podemos entrar para descansar, 'passar' um café ou até dormir ali... coisas de Caminho da Fé!



Agradecemos ao Sr. Zé, mas decidimos continuar enfrentando a subida, que vez por outra nos permitia até pedalar. 


Este é um dos últimos trechos da subida a Tocos. É um local bem conhecido, por meio das fotos que os peregrinos fazem sob a pedra. 




O clima permanecia nublado, o que ajudou muito na subida. Empurramos por quase toda a extensão acompanhados de um vento gelado que não deixava o 'carburador esquentar', como dizia Filipe e Maria. Lá de cima, é possível ter uma visão magnífica, de onde já passamos. 





Praticamente nem paramos para descansar quando chegamos ao topo, para que o vento gelado não nos resfriasse. Aqui, quando muito se sobe, muito se desce... por isso, fomos recomendados a tomar cuidado com o declive acentuado.



Em algum ponto da descida, passamos por uma pequena garagem onde trabalhavam uma senhora e um menino de uns 9 anos, encaixotando morangos. Como eram muito tímidos, não fiz fotos deles. A habilidade do menino é fantástica! Sobre um caixote, para ficar da altura da mesa, pegava os morangos que a senhora colocava na caixinha, e embalava para guardar na caixa maior. 




Estava com muita vontade de comer mas, como não nos foi oferecido e provavelmente necessitasse passar por uma higienização, achei melhor não pedir. 

De repente, começou novamente a garoar. Como já passava da hora do almoço, decidimos parar para comer o lanche que trouxemos do café da manhã. 


Seguimos em frente, parando para fazer uma foto na placa onde nos avisava que, dos 317 km totais, faltavam apenas 200 km para chegar em nosso destino!


Após mais uma perigosa descida, paro aguardar minha amiga Maria, que ficou um pouco para trás. Aproveito para fazer uma foto nos ipês amarelos. 


Quando chegamos a Tocos do Moji, precisávamos decidir entre ir ou ficar. Tínhamos pedalado apenas 38 km. No entanto, a próxima pousada, localizava-se em Estiva, 20 km a frente, após duas serras. Pego os papéis, que contém informações e altimetria, e converso com Maria. Fazemos uns cálculos e percebemos que não seria prudente continuar, visto que se mantivéssemos a média de 40 km nos próximos dias, dormiríamos ao 'pé' da Luminosa, para dar início a temível subida nas primeiras horas do dia. Enquanto ainda conversávamos, caiu uma chuva mais forte que selou nossa decisão: Ficaremos aqui! 

O gerente de minha amiga Maria, tem familiares aqui na cidade e coincidentemente, possuem uma pousada. Decidimos ficar ali, Pousada São Geraldo. 


Eu diria que foi a MELHOR pousada que ficamos em todo o caminho! Espaçosa, completa e bem localizada. A dona da pousada veio nos receber e nos deixou completamente a vontades!


Um dos quartos compartilhado, Há também quartos individuais.
Tínhamos tudo a mão. O mercado fica do lado direito da pousada, a padaria em frente e o açougue do lado da padaria. Temos cozinha, máquina de lavar, TV e Wi Fi. Tudo isso, pelo valor simbólico de R$ 30,00. Compramos macarrão, carne moída, chá e bolacha, para o lanche da noite, leite e deixamos o pão para comprar fresquinho no dia seguinte. Gastamos 60 reais nas compras que, dividido por três, ficou apenas R$ 20,00 para cada um. 



Segue o percurso, quilometragem e altimetria de hoje: 


O caminho foi um pouco mais complexo que os dias anteriores, com grandes ladeiras. Acho que empurramos por uns 5 km no total, entre as serras. O dia estava fresco, o que ajudou muito. Ficar em Tocos do Moji foi uma sábia decisão, devido a chuva e a dificuldade do dia seguinte. Fez valer ainda mais a pena pela pousada, que super recomendo! Tem wi-fi, máquina de lavar e cozinha.

Gastos

Pousada R$ 30,00
Jantar/Café da Manhã R$ 20,00


2 comentários:

  1. Não tinha ouvido falar sobre esse "Caminho da Prece". Vou pesquisar... Parabéns pelo fiel relato e pelas belas fotos!

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    1. Olá Elim! É um caminho curtinho entre Jacutinga e Borda da Mata, acho que tem uns 70 km.

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